Inversão dos polos magnéticos

Sabe-se que a cada 500 mil anos aproximadamente, os polos da Terra se invertem e isso não é novidade. No entanto, um novo estudo mostra que a última reversão foi extremamente rápida e não levou mais de 100 anos para ser completada.

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O estudo foi realizado por uma equipe internacional de pesquisadores e demonstrou que a que a última reversão magnética ocorreu há 786 mil anos e aconteceu muito mais rápido do que se supunha. De acordo com o trabalho, a inversão magnética da Terra se deu à razão de 1.8 grau por ano, tempo que poderia ser testemunhado por uma vida humana. Até agora, os pesquisadores acreditavam que a reversão dos polos acontecia de modo muito mais lento, com alguns modelos estimando em até 1000 anos para ser completada.
De acordo com a teoria atualmente aceita, durante esse processo o campo magnético da Terra passaria por um processo muito lento e gradual de enfraquecimento, seguido de novo fortalecimento, também lento e gradual.

Inversão a caminho

A descoberta, que será publicada na edição de novembro do Geophysical Journal International, levou alguns geofísicos a prever que uma nova inversão poderá ocorrer dentro de alguns milhares de anos, uma vez que há evidências de que a intensidade do campo magnético da Terra está diminuindo 10 vezes mais rápido do que o normal


A nova descoberta é baseada em medições do alinhamento do campo magnético em camadas de sedimentos de lagos antigos agora expostos na bacia de Sulmona, nos Apeninos, ao leste de Roma.

Naquela região, uma equipe de pesquisadores italianos liderados por Leonardo Sagnotti, ligado ao Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia de Roma, mediu as direções do campo magnético gravadas nos sedimentos acumulados no fundo do antigo lago.
Utilizando o método argônio-argônio de datação, a equipe de cientistas observou que uma súbita reversão de 180 graus do campo foi precedida por um período de instabilidade que durou mais de 6.000 anos, intercalados por altos e baixos com intervalos de 2 mil anos. Segundo o estudo, isso ocorreu entre 770 mil e 795 mil anos atrás e durou apenas 100 anos.

Consequências


Apesar da reversão magnética ser um grande evento de escala planetária, conduzida provavelmente pelo convecção no núcleo de ferro da Terra, não há catástrofes documentados associados às reversões ocorridas no passado. No entanto, se ocorresse atualmente, o fenômeno poderia provocar uma série de danos.

Uma vez que o campo magnético da Terra protege a vida contra as partículas energéticas provenientes do Sol e também contra os raios cósmicos, que podem causar mutações genéticas, um enfraquecimento ou perda temporária do campo ante uma reversão permanente poderia aumentar as taxas de câncer. Além disso, redes de distribuição de energia seriam bastante afetadas, uma vez que as tempestades solares teriam um efeito devastador sobre um campo magnético enfraquecido.

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Escudo geomagnético

O campo magnético da Terra é gerado pelo movimento do metal derretido que envolve o núcleo sólido do planeta. Tal movimento, por sua vez, é provocado por mudanças na temperatura do núcleo sólido e pela própria rotação do planeta. Assim, dizer que houve um fortalecimento (enfraquecimento) do campo magnético em determinada região do globo significa dizer que o fluxo de material no núcleo externo — líquido — abaixo desta região intensificou-se (reduziu-se), de acordo com Rune Floberghagen, diretor da missão Swarm da ESA. A preocupação com o rumo tomado pelo campo magnético e os estudos realizados se justificam quando se tem em mente a função de escudo geomagnético do campo, protegendo-nos da radiação cósmica emitida, principalmente, pelo Sol, sob a forma de ventos solares. Podemos observar esse fenômeno através da beleza das auroras boreal e austral: partículas eletricamente carregadas (íons) emitidas pelo Sol são capturadas pelo campo magnético —um ímã gigantesco — e aceleradas em direção à Terra nos polos; as colisões entre essas partículas e os átomos da atmosfera liberam energia luminosa (fótons), e eis o brilho da aurora.

Os primeiros resultados da Swarm, revelados em conferência na Dinamarca, no dia 19 de junho, sugerem que o norte magnético (em termos práticos, a direção norte para a qual aponta a agulha de uma bússola) já esteja se movendo para a Sibéria. Ao portal LiveScience , Floberghagen disse que inversões completas dos polos magnéticos não são instantâneas, mas levariam “muitas centenas, senão alguns milhares de anos”, e que já acontecerem “muitas vezes no passado”.


Estima-se que os polos magnéticos se invertam uma vez dentro de algumas centenas de milhares de anos, de forma que uma bússola passaria a apontar o sul geográfico como o norte magnético na próxima alteração. As variações na força do campo magnético terrestre fazem parte do processo natural de inversão, entretanto, as observações da missão Swarm mostraram que a força do campo está diminuindo em cerca de 5 por cento a cada década, velocidade dez vezes superior à verificada em estudos prévios, de 5 por cento ao século.

Portanto, a inversão completa, prevista para ocorrer em cerca de 2.000 anos, poderá estar muito mais próxima, e uma nova coleta de dados dos satélites Swarm deve nos fornecer pistas quanto ao motivo de o enfraquecimento do campo ser atualmente mais rápido.

Ainda não existem evidências de que um campo magnético mais fraco ocasionaria o fim da vida na Terra; de fato, as inversões polares anteriores não resultaram em extinções em massa, por exemplo. No entanto, redes de transmissão de eletricidade, sistemas de comunicação e astronautas em órbita correm um risco significativo, conforme costumam salientar os cientistas.

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